sexta-feira

A sincronia no casal : não tanto na alegria e na saúde, mais na tristeza e na doença

O enfoque tradicional da psicologia (e da psicanálise) assentou no indivíduo , enquanto unidade de análise. Contudo, desde muito cedo, inúmeros terapeutas e investigadores chamaram a atenção para a necessidade de se atentar na relação, porquanto, não existimos enquanto pessoas, sem ser , precisamente, na e em relação.

Não são, deste modo, surpreendentes, as conclusões das pesquisas sobre a influência do contexto relacional na nossa saúde, e que nos demonstram que o meio influencia tanto o nosso estado mental, quanto o físico.

A título do exemplo, haviam já sido estabelecidas, em inúmeras investigações, correlações entre a longevidade , sintomatologia física e susceptibilidade à doença ( desde a gripe comum ao cancro ) e medidas tanto das rede de relações sociais efectivamente mantidas, como do apoio social percepcionado pelo indivíduo.*1(Uchino, Cacioppo, & Kiecolt-Glaser,1996).

Também os casamentos /uniões de facto felizes – na vida de muitos adultos, a relação social central , e a mais duradora - se encontram associados a menor risco de depressão, e de mortalidade, enquanto que o inverso também é habitualmente demonstrado nestes estudos, que revelam a influência negativa que as dificuldades conjugais exercem na saúde, principalmente na das mulheres , aparentemente, mais afectadas , por este factor.

Contudo, apesar do reconhecimento generalizado da importância que o contexto conjugal exerce na saúde individual, muito pouco se sabe como ocorre esse processo ou se estabelece essa influência entre conjuges, e como , individualmente, o estado emocional dos nossos parceiros , nos afecta , e à nossa saúde.


Partindo das hipótese dos teóricos do ''attachment” de que a vinculação precoce possibilita a regulação fisiológica e emocional do bebé cujas capacidades auto-regulatórias se encontram ainda em desenvolvimento, assumindo o cuidador um papel de co-regulador , duas investigadoras da Universidade da California, Darby Saxbe e Rena Repetti (2010) quiseram entender se , também na idade adulta, e no contexto de uma relação duradoura, os elementos da díade se co-regulam /sincronizam emocional e fisiologicamente.

Para tal ,acompanharam 30 casais (em casa, e no trabalho ) e recolheram , quatro vezes por dia, amostras de saliva (pretendendo aferir os respectivos níveis de cortisol , uma medida de stress) a par de medidas de auto-registo de estados de humor, e chegaram à conclusão de que , como esperavam, os níveis de cortisol entre cônjuges se encontravam positivamente associados, isto é, independentemente dos elementos do casal estarem ou não próximos fisicamente no momento em que as amostras de saliva eram recolhidas, quando um dos elementos revelava níveis de stress mais altos do que o seu habitual , o outro acompanhava esta tendência, encontrando-se, igualmente também mais ''stressado'', confirmando-se que as oscilações individuais dos nossos níveis de stress , e estados de humor, se encontram associadas às daqueles que connosco partilham a vida. 

Curiosamente, e em relação aos factores negativos (maiores níveis de stress e estados emocionais negativos ) os dados revelaram que a satisfação conjugal diminui a força desta correlação, e a insatisfação conjugal aumenta-a, o que aponta para que quanto pior nos sentimos na relação a dois , mesmo que o não desejemos, essa será a altura em que mais sincronizados estaremos com o nosso parceiro, ainda que esta simultaneidade ocorra apenas “ na tristeza , e na doença “

Uchino, B. N., Cacioppo, J. T., & Kiecolt-Glaser, J. K. (1996). The
relationship between social support and physiological processes. Psychological Bulletin, 119, 488 –531.

Saxbe, D et Repetti, , RL (2010)-For better or worse.Coregulation of couples' cortisol levels and mood states . Journal of personality and social Psychology, Vol. 98, No. 1, 92–103

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